Como se eu tivesse um projetor 3D no meio da testa, fico vendo você em tudo que olho. No filme antigo em preto e branco, o olhar da Liv Ullman, já não é mais da Liv Ullman... é seu olhar de menina. Aquele olhar que me abraça inteiro. Aí tenho que voltar o filme pra entender o que ela disse, estava distraído namorando o olhar dela ou o seria o seu? Já nem sei mais.
A moça na fila do ônibus que eu quase abracei por trás, querendo que fosse você, me olha desconfiada, certamente não gostou nem um pouco do jeito bobo que eu olhei pra ela. Tentei disfarçar sorrindo, mas acho que ela continuou me achando bobo. Pra não dizer inconveniente. O melhor a fazer foi me sentar logo no meu lugar e mergulhar minha atenção no meu livro “1001 filmes que você precisa ver antes de morrer”. É um bom livro, mas muito pesado pra ficar carregando, como não consigo parar de lê-lo, o jeito é ler logo.
Mas eu estava falando da sua onipresença. É uma coisa tão forte, tão viva, que quase converso com ela, ou com você, já que ela, a sua onipresença, é você! Entendeu? Eu sei, é confuso pra mim também, antes bastava fechar os olhos e ouvir uma das milhares de músicas que ouvimos juntos, pra você comparecer feito um holograma. Quer dizer você não, sua onipresença. Não falhava nunca! Mas holograma não dá pra abraçar, não dá pra sentir o cheiro, não posso passar a mão na barriga da sua onipresença e nem em outras partes... Agora nem preciso mais fechar os olhos! A tua onipresença adquiriu uma tecnologia de ponta impressionante! Ela é digital, 3D, alta definição, mas com um pequeno probleminha: completamente sem controle! Ela vem e vai à hora que quer, aparece onde e quando quer. Não posso desligá-la, muito menos mudar de canal. Nem ia adiantar mesmo, ela passa em todos os canais.
Quer saber? Falando assim fica parecendo que eu não gosto de você por perto. Eu adoro você por perto, conversar com você, bater na sua bunda, sentir seu cheiro, passar a mão na sua barriga. Mas na versão analógica, por favor!
