sábado, 5 de fevereiro de 2011

Para que possamos ter o amor de alguém, precisamos antes nos amar


Marcos Ribeiro*

Para muitas pessoas é difícil encontrar a alma gêmea. E quando conseguem têm dificuldades para estabelecer um vínculo afetivo duradouro.
Não é só uma questão de escolha, é uma dificuldade dela com ela mesma. A falta de satisfação pessoal e a ausência de autoestima fazem com que homens e mulheres "boicotem" as próprias escolhas, sem entender como alguém pode amá-los ou amá-las e eles ou elas "se sentem uma porcaria".
Para que possamos ter o amor de alguém precisamos primeiro nos amar, entendendo as nossas virtudes e compreendendo nossos defeitos. Uma pessoa não pode buscar na outra a alegria que ela própria não tem. O amor não pode ser construído para cobrir "buracos internos", pois quando o outro começa a não corresponder a cobrança é inevitável. Quando se convive com alguém, um acredita que conhece muito bem o outro e enxerga só a imagem que já é conhecida. Mas quando o amor idealizado sai desse roteiro, vem a decepção e os primeiro conflitos. O principal erro da escolha amorosa é inventar a pessoa amada e construir a relação em cima dessa fantasia, creditando-lhe qualidades que, no fundo,gostaria que tivesse.
Não seria melhor se empenhar para conhecer a pessoa como ela é? O que fazer para não cair nessas armadilhas psicológicas?
Segundo o educador americano Leo Buscaglia, para amar "precisamos ter a sutileza de um sábio, a flexibilidade de uma criança, a sensibilidade de um artista, a compreensão de um filósofo, a aceitação de um santo, a tolerância de um consagrado, os conhecimentos de um erudito e a fortaleza da certeza."
Talvez no início possa parecer difícil, no entanto o próprio amor será a mola mestra para impulsionar a relação com todos esses ingredientes que surgem naturalmente na convivência diária.
É importante ter claro que não há regras, porque se ama de várias formas e jeitos, uns transbordam de amor, outros amam com gestos contidos. Para entender o mistério que faz alguém se apaixonar por uma pessoa e não por outra é preciso "entrar" na mente humana e conhecer as inúmeras variáveis que interferem na escolha amorosa. Por exemplo: as pessoas usam como referência para a escolha do seu amor uma imagem que foi construída ainda criança. Pode ser de pai, mãe, avô, irmão ou outra pessoa. Muitas vezes fica no plano inconsciente, mas o cérebro deixa tudo registrado e volta à cena no exato momento em que precisa dele.
É mais ou menos assim: quando alguém se interessa por outra pessoa, vem logo a imagem construída e, e com isso, vê se encaixa ou não nessa imagem o modelo de homem e mulher construídos. Se não ocorrer atração, será mais um encontro entre tantos outros que passou pela vida dessa pessoa.
Mas, se houver um alto grau de correlação, é provável que uma nova história a dois vá começar a ser contada.
Como saber que chegou a hora? Não há receitas, mas uma coisa é certa: se ao acordar ou ao ir dormir o seu pensamento for sempre na mesma pessoa, fique atento.
Se no momento do encontro seu coração parecer uma bateria de escola de samba em plena avenida, essa pode ser a pessoa que você está esperando: o amor da sua vida.

*Marcos Ribeiro; sexólogo e consultor em Educação Sexual no Rio de Janeiro, é autor de Conversando com seu filho sobre sexo.