quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Amanhecer



Senti seu corpo se encolhendo e tremendo muito, sempre que isso acontece ela se aninha ainda mais em mim, num fenômeno que batizei de “estrimilique” como se fosse possível ficar ainda mais colada, então a abracei com força, as ondas de calor da menopausa tem uma contrapartida que a faz sentir muito frio, mas nem sempre ela acorda.
Voltei a plantar meu nariz bem no anjo tatuado abaixo da sua nuca, e degustei o seu perfume misturado ao suor e ao cheiro próprio da sua pele alva, muito clara, branca mesmo, quase brilhante no escuro.
Das lembranças que tenho dela a mais forte vai ser sempre do cheiro. Sempre estive muito ligado em perfumes,cheiros e aromas, o cheiro da terra molhada quando chove, me leva a minha infância, quando corria descalço nas enxurradas da rua sem pavimentação da minha cidade. Dias felizes pra mim tinham sempre que ser chuvosos, e ainda tem.
Um livro novo tem um cheiro que não se compara a nada, é sedutor e vai aos poucos sendo substituído pela poeira de ácaros que me fazem espirrar sem parar. Um brinquedo novo tem sempre um cheiro que nunca mais esquecemos. Um disco novo quando retirado do plástico dava tanto prazer quanto a música, digo “dava” porque comprar um disco novo é um hábito que abandonei há tempos, nesses dias de mp3.
Os sons...a voz dela dentro da madrugada se misturando ao canto doce de Billie Holiday... não há nada melhor pra se ouvir pela manhã! sonho e realidade na mesma cama.
O calor da sua bunda no meu baixo ventre sempre acaba provocando uma ereção matutina que chamamos de “trem das cinco”. O beijo suave doce como a sua voz, nunca sei se é real ou fantasia, dona do meu corpo e do meu desejo, ela monta no meu falo e me diz pra continuar dormindo, as unhas cravadas no meu peito e o calor do seu sexo não deixam, então ela começa devagar, a viagem no trem das cinco...O que mais gosto é de vê-la gozar, nunca prestei muita atenção em uma mulher gozando, tomado pelo próprio gozo. Mas com ela o gozo assume uma outra dimensão, é o gozo da mulher amada, que deita saciada a cabeça em meu peito, o sexo em minha coxa e volta a adormecer assim. Nunca gostei de dormir colado em outro corpo, me incomodava o toque da pele de qualquer mulher quando começava a sentir sono, simplesmente não conseguia dormir.
Mas a pele e o toque dela são como parte do meu corpo, da minha pele, assim adormeço também.