terça-feira, 25 de outubro de 2011

A semente e o silêncio




Sinto-me como uma semente no meio do inverno, sabendo que a primavera se aproxima. 
O broto romperá a casca e a vida que ainda dorme em mim haverá de subir para a superfície, quando for chamada. 
O silêncio é doloroso, mas é no silêncio que as coisas tomam forma, e existe momentos em nossas vidas que tudo que devemos fazer é esperar. 
Dentro de cada um, no mais profundo no ser, está uma força que vê e escuta aquilo que não podemos ainda perceber. 
Tudo o que somos hoje nasceu daquele silêncio de ontem. Somos muito mais capazes do que pensamos. 
Há momentos em que a única maneira de aprender é não tomar qualquer iniciativa, não fazer nada. Porque, mesmo nos momentos de total inação, esta nossa parte secreta está trabalhando e aprendendo. 
Quando o conhecimento oculto na alma se manifesta, ficamos surpresos conosco mesmos, e nossos pensamentos de inverno se transformam em flores, que cantam canções nunca antes sonhadas. 
A vida sempre nos dará mais do que achamos que merecemos".
(Kahlil Gibran)

domingo, 11 de setembro de 2011

Cometas que aborrecem


Nas duas ultimas décadas, vivemos um período triste para o cancioneiro nacional. Coincide com o tempo da redemocratização – como se nossos melhores compositores da chamada música popular brasileira só produzissem bem quando oprimidos. Mas não é só isso: ao que tudo indica a máquina da indústria musical centrou baterias em torno da produção comercial. Daí a proliferação das duplas ditas sertanejas (e que de sertão nada tem) e dos pagodes em que (nos dois casos) qualidade melódica ou de textos é o que menos conta.
A isso, sim, não se pode chamar de arte, mas de “empreendimento no ramo musical” Empreendedorismo...
Aliás, empreendedorismo é uma palavrinha bem mal concebida. Hem? Se a coisa se refere a “empreender”, deveria derivar daí, Mas é da moda destes últimos vinte anos inventarem palavras, ao mesmo tempo em que as massas se deixam levar pela mídia que superlota shows de um menino cantor que diz: “um beijo fala mais que mil palavras/ um toque é bem mais que poesia”. O primeiro verso cai bem, mas o segundo...
Bem a letra inteira, e a musica em seu todo, são de gosto duvidoso. Ou sofrível, como diria um velho mestre meu, sempre com o cuidado de não ofender o jovem e muito bem pago cantor (respeito-o, e lamento que a máquina financeira faça dele um boi de exposição), mas ele não respeita meus ouvidos.
Quer outro exemplo? Paula Fernandes. Sim todo mundo gosta dela, eu também gosto. Qual é o problema então? O problema é a onipresença da cantora que está em toda parte, desde os carros de playboys ultra super equipados com equipamento sonoro que faz tremer nossas janelas, (como se o prazer de ouvir música precise ser também o prazer de infernizar o ouvido alheio.) até os botecos chamados “copo sujo” onde sempre tem um DVD da dita moça cantando todos os dias! Não estou discutindo a qualidade musical da moça, vá-lá, ela até que canta direitinho, mas experimente ouvir o dia todo e em todo lugar...
Cadê o prazer de pegar um cd que você gosta e colocar no som pra ouvir, depois de muito tempo? Mesmo sem ter vontade nenhuma, já ouvi Paula Fernandes e Luan mais vezes que gostaria, e acho até que mais vezes que ouvi Beatles na minha vida, e isso não é prazer ai já é tortura.

terça-feira, 30 de agosto de 2011

O Amor









- Quando o amor vos fizer sinal, segui-o;
ainda que os seus caminhos sejam duros e difíceis.
E quando as suas asas vos envolverem, entregai-vos;
ainda que a espada escondida na sua plumagem
vos possa ferir.

E quando vos falar, acreditai nele;
apesar de a sua voz
poder quebrar os vossos sonhos
como o vento norte ao sacudir os jardins.

Porque assim como o vosso amor
vos engrandece, também deve crucificar-vos
E assim como se eleva à vossa altura
e acaricia os ramos mais frágeis
que tremem ao sol,
também penetrará até às raízes
sacudindo o seu apego à terra.

Como braçadas de trigo vos leva.
Malha-vos até ficardes nus.
Passa-vos pelo crivo
para vos livrar do joio.
Mói-vos até à brancura.
Amassa-vos até ficardes maleáveis.

Então entrega-vos ao seu fogo,
para poderdes ser
o pão sagrado no festim de Deus.

Tudo isto vos fará o amor,
para poderdes conhecer os segredos
do vosso coração,
e por este conhecimento vos tornardes
o coração da Vida.

Mas, se no vosso medo,
buscais apenas a paz do amor,
o prazer do amor,
então mais vale cobrir a nudez
e sair do campo do amor,
a caminho do mundo sem estações,
onde podereis rir,
mas nunca todos os vossos risos,
e chorar,
mas nunca todas as vossas lágrimas.

O amor só dá de si mesmo,
e só recebe de si mesmo.

O amor não possui
nem quer ser possuído.

Porque o amor basta ao amor.

E não penseis
que podeis guiar o curso do amor;
porque o amor, se vos escolher,
marcará ele o vosso curso.

O amor não tem outro desejo
senão consumar-se.

Mas se amarem e tiverem desejos,
deverão se estes:
Fundir-se e ser um regato corrente
a cantar a sua melodia à noite.

Conhecer a dor da excessiva ternura.
Ser ferido pela própria inteligência do amor,
e sangrar de bom grado e alegremente.

Acordar de manhã com o coração cheio
e agradecer outro dia de amor.

Descansar ao meio dia
e meditar no êxtase do amor.

Voltar a casa ao crepúsculo
e adormecer tendo no coração
uma prece pelo bem amado,
e na boca, um canto de louvor.







Khalil Gibran


sexta-feira, 19 de agosto de 2011







A Paixão é urgente, o amor paciente.

A paixão as vezes dói, o amor cura.

A paixão é cega, o amor onipresente.

A paixão no fim esquece, o amor perdura.






A paixão vigia, o amor cuida.


A paixão tem fome e sede, o amor sacia.


A paixão é fogo, o amor é sol 


A paixão quer virar amor, um dia. 


domingo, 14 de agosto de 2011

Minha distração



Então é assim que acontece: uma pessoa vem e abre as janelas, muda as estações, muda o clima, faz chover em dias de sol, faz o seu mundo girar ao contrário, e te dá novamente à sensação de ser criança, te faz voltar à idade da inocência, te faz perder o senso comum, até porque, a partir daí tudo o que acontece é fora do comum, é novo e parece acontecer em uma outra dimensão. Ai temos a nítida impressão de que estamos diante de nossa alma gêmea, alguém sem nada a ser mudado, “A mulher ideal existe mesmo?” você se pergunta. Aquela que sem pedir licença chega e se instala como se sempre estivesse ali, dona e senhora da situação, sabe quase tudo de você, inclusive detalhes íntimos “como fui me abrir assim? “ Você se pergunta. Mas fica pior, ou melhor, depende do referencial adotado, ou depende de como você quer viver: Feliz enquanto puder, por mais breve que seja esse “ser feliz”, ou ser feliz pra sempre na calmaria de uma vida sem sobressaltos, sem dúvidas,  sem medo de se machucar e tudo sob o mais absoluto controle.
Não acaba só na impressão... O tempo passa, e você descobre entre assustado e incrédulo que essa pessoa é sim, tudo o que você imaginou e ainda mais, por mais que você desconfiado procure, não encontra defeitos, nem manias desagradáveis, nada que te faça fugir entre aliviado e infeliz.
E agora você se pergunta: “Embarco nessa e vou viver o amor da minha vida de forma plena e inteira, ou vou fugir assustado com medo de me afogar na imensidão desse amor e me esconder” justificando que isso é só um sonho, uma ilusão, que essa coisa de alma gêmea, de mulher ideal, é coisa de poetas, de espiritualistas leitores de Alan Kardec, e que na vida real o buraco é bem mais em cima, ou seja, no coração, que é onde vai ficar o imenso rombo quando tudo se acabar... E o sangramento é grande é bom saber, quando se acordar, quando a princesa virar a bruxa má e der na sua cabeça com a sua vassoura.
Sinceramente, eu prefiro me sentar firmemente na garupa dessa vassoura mágica agarrado a cintura da minha bruxa e me deixar levar pelos sétimos, oitavos e quantos mais céus houverem pra se ver, e sentir. Ela gosta de dizer que é minha distração, mas acaba sendo verdade, porque não consigo pensar em outra coisa, a não ser no sorriso dela, no jeito doce de ser, na sua risada estridente na noite, quando senhora da situação, se faz de menina mimada, manhosa, carente e eu acredito e termino por fazer tudo o que ela quer.
Com ela aprendi que a felicidade é algo assim como um sorvete, você precisa degustar de olhos fechados, até o fim, sentindo na língua inteira, todo o gosto que ele pode te dar. E não importa o quanto dure, o que importa é a imensa sensação de eternidade que pode durar pra sempre.

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

"Um cometa fulgurante que se espatifou..."


Sim, eu sei que muito ou quase tudo já se falou sobre a morte anunciada de Amy Winehouse. Também sei que estou em falta com meus amigos da blogosfera, e devendo muitas visitas, tenho trabalhado quase 24 h por dia (graças a Deus!), mas com calma vou fazendo minhas visitas combinado?
Então a Amy morreu. Como era de se esperar Amy Winehouse morreu. Tanto quis, tanto buscou que acabou conseguindo. Pra ela era só uma questão de tempo.
A sua vida sempre foi um reality show macabro, onde no final, todo mundo perdeu, a começar por ela que perdeu a vida, uma vida que mal teve a chance de viver, uma vez que esteve a maior parte do tempo distante de sua consciência plena. Como, aliás, acontece com a grande maioria dos jovens de hoje. Acabaram-se os aplausos, ela não vai mais entrar bêbada no palco, esfregando o nariz com as costas da mão como quem acabou de dar um teco.
Nesse reality show que foi a sua vida, nesses tempos de you tube, a sua descida ao inferno em queda livre sem rede de proteção, pôde ser acompanhada em tempo real pelos fãs e pela mídia. “Amy não foi uma vítima. Era maior de idade e sabia muito bem o que estava fazendo” será mesmo? Particularmente acho que foi uma pobre vítima sim, pra começar, era uma pessoa doente e que precisava de tratamento. Mas como toda celebridade, tinha muita gente dependendo dela. Celebridades não têm tempo para se tratar, porque não podem simplesmente desaparecer.
Entre tantos comentários idiotas, piadas de mal gosto e delírios, algo honesto e coerente sobre Amy foi dito pelo médico norte-americano Drew Pinsky, especialista em tratamento de viciados. “Uma pessoa que chega ao estágio em que Amy chegou precisa de muitos meses de tratamento só para recuperar a consciência de que precisa se tratar”, disse. “Só que ela é uma celebridade, de quem muitas pessoas dependem para ganhar dinheiro, e parar de trabalhar é a última prioridade”.
Pisnky lembrou, como caso de recuperação bem sucedida, o ator Robert Downey Jr.: “Ele fez o certo: sumiu de cena por dois ou três anos, completou seu tratamento, e depois retornou à vida pública”.
Já houve quem dissesse que Amy deixou muito pouco pra ser lembrada. Eu discordo, na minha opinião, nos últimos 20 anos poucas cantoras me impressionaram tanto como ela, pelo seu jeito “cool” e personalíssimo de cantar, além é claro da voz de timbre bonito e forte.
É claro que ficamos especulando o quanto Amy ainda poderia produzir de bom, mas infelizmente só podemos imaginar... ela passou feito um cometa, (não o do Luan Santana por favor!) então quem viu, viu, quem não viu pode se deliciar com a Adele que também é ótima.

terça-feira, 26 de julho de 2011

Essa pequena




Meu tempo é curto 
O tempo dela sobra 
Meu cabelo é cinza 
O dela é cor de abóbora 
Temo que não dure muito 
A nossa novela, mas 
Eu sou tão feliz com ela 

Meu dia voa 
E ela não acorda 
Vou até a esquina 
Ela quer ir pra Flórida 
Acho que nem sei direito 
O que que ela fala, mas 
Não canso de contemplá-la 

Feito avarento conto meus minutos 
Cada segundo que se esvai 
Cuidando dela que anda noutro mundo 
Ela que esbanja suas horas 
Ao vento, ai 

As vezes ela pinta a boca e sai 
Fique a vontade, eu digo 
Take your time 
Sinto que ainda vou penar com essa pequena, mas 
O blues já valeu a pena


Chico Buarque